sexta-feira, 25 de maio de 2012

42


"Não entre em pânico" - Assim diz a capa do Guia do Mochileiro das Galáxias -
um livro que não é da Terra, jamais foi publicado na Terra e, até o dia em que ocorreu a terrível catástrofe, nenhum terráqueo jamais o tinha visto ou sequer ouvido falar dele. Apesar disso, é um livro realmente extraordinário. Na verdade, foi provavelmente o mais extraordinário dos livros publicados pelas grandes editoras de Ursa Menor, editoras das quais nenhum terráqueo jamais ouvira falar, também. O livro é não apenas uma obra extraordinária como também um tremendo bestseller, mais popular que a Enciclopédia Celestial do Lar, mais vendido que Mais Cinqüenta e Três Coisas para se Fazer em Gravidade Zero, e mais polêmico que a colossal trilogia filosófica de Oolonn Colluphid, Onde Deus Errou, Mais Alguns Grandes Erros de Deus e Quem É Esse Tal de Deus Afinal? Em muitas das civilizações mais tranqüilonas da Borda Oriental da Galáxia, O Guia do Mochileiro das Galáxias já substituiu a grande Enciclopédia Galáctica como repositóriopadrão de todo conhecimento e sabedoria, pois ainda que contenha muitas omissões e textos apócrifos, ou pelo menos terrivelmente incorretos, ele é superior à obra mais antiga e mais prosaica em dois aspectos importantes. Em primeiro lugar, é ligeiramente mais barato; em segundo lugar, traz impressa na capa, em letras garrafais e amigáveis, a frase NÃO ENTRE EM PÂNICO.
Sim. Com esse prefácio esquisitíssimo, começa o "Guia do Mochileiro das Galáxias" de Douglas Adams. E, confesso, fui um daqueles preconceituosos que evitaram ler ou entrar em contato com a obra simplesmente por ter virado um best-seller, apesar do critério do tempo já estar transformando-o em um clássico (ao menos imagino). Lembro que vi o filme e achei engraçado, mas era uma onda da molecada ler o livro e ficar falando que eu acabei sendo chato e deixei de lado. Até que ao começar a ler sobre ateísmo, comecei a ver citações do Douglas Adams e muita gente comentando sobre o caráter cético e debochado. Acho que duas citações do livro me chamaram a atenção:

Ora, seria uma coincidência tão absurdamente improvável que um ser tão estonteantemente útil viesse a surgir por acaso, por meio da evolução das espécies, que alguns pensadores vêem no peixe-babel a prova definitiva da inexistência de Deus.
O raciocínio é mais ou menos o seguinte: 'Recuso-me a provar que eu existo', diz Deus, 'pois a prova nega a fé, e sem fé não sou nada.'
Diz o homem: 'Mas o peixe-babel é uma tremenda bandeira, não é? Ele não poderia ter evoluído por acaso. Ele prova que você existe, e portanto, conforme o que você mesmo disse, você não existe. Q.E.D.'
Então Deus diz: 'Ih, não é que eu não tinha pensado nisso?' E imediatamente desaparece, numa nuvenzinha de lógica."
E a outra:
"Não é o bastante ver que um jardim é bonito sem ter que acreditar também que há fadas escondidas nele?"

São dois trechos preciosos em meio a tantos. O nome deste post, inclusive, é algo engraçadíssimo, mas não vou explicar o motivo, pois vale a leitura. E o que falar de Zarquon, o profeta? Impossível não ser remetido ao Deus abrâmico, Jesus e demais pregadores do deserto.

Hoje, 25 de maio, é o Dia da Toalha, celebrando a vida de Douglas Adams (apesar desse dia ser de seu falecimento). Ou seja, se ver algumas pessoas andando por aí com toalhas no pescoço ou a tiracolo, haja naturalmente. São apenas aqueles que sabem que a qualquer momento podem pegar uma carona pelo espaço. E, como se sabe, uma toalha é o item mais útil em uma viagem espacial.


A toalha é um dos objetos mais úteis para um mochileiro interestelar. Em parte devido a seu valor prático: você pode usar a toalha como agasalho quando atravessar as frias luas de Beta de Jagla; pode deitar-se sobre ela nas reluzentes praias de areia marmórea de Santragino V, respirando os inebriantes vapores marítimos; você pode agitar a toalha em situações de emergência para pedir socorro. E entre inúmeras outras funções, naturalmente, pode usá-la para enxugar-se com ela se ainda estiver razoavelmente limpa.
Porém o mais importante é o imenso valor psicológico da toalha. Por algum motivo, quando um estrito (isto é, um não-mochileiro) descobre que um mochileiro tem uma toalha, ele automaticamente conclui que ele tem também escova de dentes, esponja, sabonete, lata de biscoitos, garrafinha de aguardente, bússola, mapa, barbante, repelente, capa de chuva, traje espacial, etc, etc.
Além disso, o estrito terá prazer em emprestar ao mochileiro qualquer um desses objetos, ou muitos outros, que o mochileiro por acaso tenha “acidentalmente perdido”. O que o estrito vai pensar é que, se um sujeito é capaz de rodar por toda a Galáxia, acampar, pedir carona, lutar contra terríveis obstáculos, dar a volta por cima e ainda assim saber onde está sua toalha, esse sujeito claramente merece respeito.

Nenhum comentário: