domingo, 5 de setembro de 2010

Rock com Ciência

Ajudando a divulgar o programa de rádio de um colega do Clube Cético (o Rubens, vulgo Zaphod Beeblebrox): http://biociencia.org/rockcomciencia/?p=49

Aí você pode baixar o podcast do programa e ver quem são os apresentadores.

Eu ouvi e gostei bastante. Um clima muito leve e uma bela idéia do que é a ciência, algo que eu realmente sou apaixonado, apesar de não ser um cientista e nem almejar ser.

sábado, 4 de setembro de 2010

O futebol que de foot só tem 3 lances - parte 1 - resumo do jogo


Sei que é clichê falar o "futebol da bola oval", por isso não vou falar sobre isso. Porradaria, gente correndo, trogloditas esmagando jogadores menores. Aí vem um cara e joga a bola longe, alguém recebe e saí correndo para chegar perto da trave em formato de "Y". Aí todo mundo comemora, entra um cara para chutar a bola. Aí chutam a bola, todo mundo corre pra pegar o cara que vai receber ali na frente. E de repente, depois de algumas pancadas, porradas, jogadas, entra de novo o cara do chute, mas desta vez vale 3 pontos. Que diabos é isso?

Bom, eu costumo chamar o futebol americano de xadrez com toques de crueldade. Sério. Pra quem não conhece o esporte, só deve parecer o que está acima mesmo. Mas quem começa a acompanhar a sério, começa-se a entender todo o aparato que compõe uma equipe e quantas pessoas estão envolvidas em apenas um jogo. Vou dar alguns números de uma equipe da NFL (National Football League):

- 53 jogadores compõe um elenco, entre ataque e defesa
- 45 jogadores são "ativados" para uma partida, sendo que existe uma exceção para o quarterback no 4o período, caso os outros dois se contundam.
- além destes jogadores, as equipes podem ter mais 8 jogadores no que é chamado de "Practice Squad", que seria um banco de jogadores jovens que a equipe pode dispor durante a temporada tanto para o desenvolvimento do jogador, quanto para eventuais substituições na equipe titular.
- toda equipe tem um treinador principal, um treinador para o ataque, outro para a defesa e mais um para as equipes especiais. Além deles, existem treinadores específicos para cada posição, que podem chegar a mais 8.
- o teto salarial de cada equipe na temporada 2009 foi de US$ 128 milhões, divididos entre esses 53 jogadores.

Ou seja, é gente e grana que não acaba. E a NFL ainda é a liga mais valorizada de todas as principais nos EUA (NBA, MLB, NHL, MLS). Mas afinal, do que trata o esporte?

O objetivo principal de uma equipe de futebol americano é obter o maior número de pontos durante o jogo dividido em 4 quartos de 15 minutos. Para tanto, existem algumas maneiras:

- o famoso "Touchdown", que confere 6 pontos a equipe anotante, com direito a um ponto extra obtido por um chute por entre a trave de "Y" ou a chance de anotar 2 pontos, tentando uma jogada qualquer. O touchdown é qualquer jogada ofensiva ou defensiva em que a equipe consegue chegar àquela área próxima a trave de "Y" da outra equipe, a chamada "End Zone".
- o "Field Goal", que são 3 pontos, pois a equipe chega a uma situação que ela não consegue atingir a end zone e decide chutar por entre a trave em "Y" do lugar de onde está. Obviamente isso só é possível se seu kicker (chutador), tiver força e mira suficiente para acertar. Não adianta querer chutar a partir de seu campo, pois o recorde atual da liga é 63 jardas e poucos conseguem passar de 60. Normalmente, o alcance de um kicker fica entre 50 e 55 jardas, com ajuda do vento.
- o "Safety"(não confundir com a posição): o safety é algo raro de acontecer, mas é possível. Acontece quando um jogador do time que está com a bola é derrubado em sua própria end zone. Com isso, a equipe defensora recebe 2 pontos e a posse de bola.

Falando em posse de bola, a dinâmica de jogo seria mais ou menos esta:

- as equipes tiram um cara-ou-coroa para decidir que equipe começa recebendo ou chutando.
- uma equipe chuta a bola, o chamado "kickoff", que dá início à partida. Temos então a equipe que chuta e a equipe recebedora. O time que recebe vai fazer o possível para permitir que o jogador que recebeu a bola possa avançar o máximo possível em direção ao campo adversário e a equipe que chutou vai fazer o possível para tentar evitar esse avanço. A partir do momento que o jogador que recebeu e tentou avançar é derrubado, o ataque começa a partir daquele ponto. Porém, se ninguém conseguir derrubar o recebedor e ele conseguir chegar até a end zone adversária, é um touchdown.
- caso o jogador tenha sido derrubado, começa o ataque da equipe que recebeu primeiro. Como dito anteriormente, o objetivo primordial é marcar mais pontos e o touchdown é a maneira mais fácil de se obter isso. Porém, em um campo com 100 jardas nem sempre é possível conseguir tudo em apenas uma jogada. Por isso, o primeiro objetivo dentro da partida é conseguir obter 10 jardas em 4 jogadas. Parece simples, mas se após essas quatro jogadas você não conseguir avançar, você tem que dar a bola para o adversário onde você estiver. Ou seja, você pode ter que defender-se do ataque adversário em uma posição de campo terrível. Por isso, o habitual são 3 jogadas para tentar avançar e se não for possível, a equipe que está atacando devolve a bola para o adversário através de um chute muito longo e alto chamado "punt", no qual o "punter" pega a bola com as mãos e chuta, ao contrário do kickoff e do field goal, que são chutados a partir do chão.
- caso o ataque consiga avançar as 10 jardas em 3 jogadas, a equipe vai indo em frente até chegar na end zone adversária. Obviamente a equipe não precisa pensar em atacar de 10 em 10 jardas apenas. Como sabemos, o objetivo é o touchdown e passes longos e corridas em velocidade são sempre bons meios para conseguir mais do que 10.
- caso a equipe que está atacando não conseguir atingir 10 jardas em 3 jogadas, mas a distância seja o suficiente para que o kicker possa entrar e chutar entre a trave em "Y", a equipe tenta o field goal na 4a jogadada. Se conseguir, 3 pontos. Se não, a equipe adversária vai para o ataque no ponto que o chute foi dado.
- porém, sendo anotado um field goal ou touchdown, a equipe que pontue dá a bola então para o adversário fazer seu primeiro ataque, novamente na forma de um kickoff.
- E por aí vai. Tudo MUITO resumido, é claro.

Aqui, um pequeno exemplo de jogadas. Um highligh de San Francisco 49ers x Minnesota Vikings da pré-temporada de 2010 no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=s2gUjxHoZ9o

E logo posto mais. Ainda quero falar das formações ofensiva e defensiva, bem como as posições.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O Fenômeno OVNI

Reconheço que não sei muito do que acontece neste mundão, mas não sou de aceitar tudo de cara. Depois que aprendi o que é a Navalha de Occam, aí é que deixei de aceitar as explicações estapafúrdias, ao invés das mais simples.
Eu sou cético. Na verdade, sou cético com aquilo que não se pode provar. E aí ao trocar de canal e ver o History Chanel, vi a argumentação usada para o "fenômeno OVNI" e... é a mesma para a existência de deuses, mitos, sacis, fadas, curupira, filho de prostituta chamado Junior!

A Navalha de Occam diz que a resposta mais simples costuma ser a certa. Não que isso seja uma verdade absoluta, mas convenhamos. Você vê imagens nas cavernas, paredes, pirâmides, de seres bizarros e esquisitos. Você lê textos sagrados e/ou históricos falando que eles viram seres vindo dos céus. Qual a explicação usada? É claro, lenda pura. Histórias sobre heróis e seres de super poderes (Joseph Campbell pode ser um começo, com seus estudos sobre o herói mítico) sempre fizeram parte de todas as culturas. Ou alguém acha que Aquiles existiu do jeito que Homero descreveu?

O problema de se atribuir esses "relatos" (até porque foram escritos há mais de 6 mil anos), a extra-terrestres e/ou deuses é que estranhamente não vemos isso acontecer mais. De repente, parece que o avanço tecnológico e científico destruiu os meios pelos quais esses seres se comunicavam conosco. O fato de existirem histórias e desenhos descrevendo dilúvios, seres vindos do céu, mitos de criação, simplesmente não tornam isso real. O fato de não sabermos como interpretar ou o que nossos antepassados queriam dizer, não nos permite usar isso como evidência de nada. Tudo que vier a partir disso, é pura especulação.

O desenho de uma pessoa usando algo que parece um capacete, é apenas a maneira que nós interpretamos aquilo. E se nossos antepassados tinham rituais que envolviam usar melancias ou abóboras na cabeça? Vai lá saber que tipo de goró eles tinham há 6 mil anos atrás, já que o vinho tem essa idade. O cara vai, enche a cara, fuma alguma erva ou mesmo está sofrendo de uma febre de 40 graus e vê alguém voando e resolve escrever ou desenhar o "avistamento". Por que minhas "teorias" fariam menos sentido que extra-terrestres?

Nós não entendemos muitas coisas e continuamos a buscar no "mundo lá fora" essas explicações, ao invés de valorizar nossa espécie como vencedora. Dizer que extra-terrestres construíram monumentos ou foram os responsáveis pelo conhecimento que temos hoje é simplesmente jogar no lixo toda nossa evolução e esforço. É ignorar que tivemos milhares de anos para chegar aqui e que as coisas não surgiram do nada. O quanto se passou em diversos lugares ao mesmo tempo que permitiram o surgimento da escrita e da história.

E pra terminar por ora... Os extra-terrestres de hoje não tem mais o que fazer do que fazer círculos em plantações ou abduzir pessoas para experiências de cunho sexual?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A arte de não ser mais um - Cyndi Lauper (ainda!)


Não tenho ídolos, só admiro certas características humanas. É gostoso admirar os outros, faz bem para o espírito. Até criaturas escrotas são capazes de atitudes admiráveis - pontuais, vá lá, mas são.

Enfim, pensava na capacidade que algumas pessoas têm de se reescrever e na coragem necessária para inserir o novo na prática. Lembrei do último post, sobre a Cyndi Lauper. Taí um exemplo de quem fugiu da banalidade.

Ela poderia ter aproveitado a moda do revival dos anos 80 para relançar os grandes hits que a tornaram conhecida. Se continuasse no pop, teria os saudosistas fiéis e mais uma penca de novas "garotas que querem apenas se divertir". Ganharia uma grana sem grandes esforços e depois sumiria de novo. Também poderia achar que está velha e entrar numas de autodestruição pra apressar a morte iminente. Ou fazer bolo para esperar os netos na velha casa, cercada por velhas paredes cheias de velhos posteres, onde contaria velhas histórias do tempo em que nem pensava em envelhecer. Tantas opções cômodas!

Mas ela escolheu o risco.

Aos 57 anos, Cyndi rejeitou a via reta do caminho conhecido. Abriu mão da segurança e não se contentou em ser cover do que foi aos 20 anos, nem quis explorar o estilo pelo qual ficou famosa. Foi além. Largou a batidinha lixo das musicas inocentes que cantava, investiu numa banda de verdade e modulou sua voz ao swing do blues.

A postura da Cyndi Lauper - muito mais do que maquiagem ou outro adereço externo - faz com que ela se destaque entre milhões de seres da mesma espécie.

Inspire-se!

terça-feira, 27 de julho de 2010

Cyndi Lauper : Memphis Blue

Fase musical "pop": a mente pede, eu dou. Aí me deparo com Cyndi Lauper, musa pop dos anos 80, cantando...blues!

Amo blues, acho a Cyndi Lauper super divertida, sou curiosa...Impossível não ouvir o álbum!

E não é que a moça leva jeito? Ok, nem tão moça, mas muito atual. A voz casou bem com o estilo, amadureceu e só em alguns agudos lembra o timbre adolescente de "Girls just wanna have fun". E ela fez bonito mesmo cantando com feras do blues e R&B - que, por sinal, só enriqueceram o trabalho.

A banda parece ter sido escolhida a dedo, uma delícia!

Tudo flui muito harmonioso, redondinho. Um álbum caprichado, para ser ouvido sem preconceito.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Our Man in Jazz

Atendendo a pedidos, de onde vem o nome deste blog?

Estávamos pensando em criar um blog em conjunto onde pudéssemos postar assuntos de interesse comum. E claro, nunca surge um nome ou uma idéia legal.

Certo dia, estava ouvindo um álbum que obtive no JazzMan, de um de meus saxofonistas favoritos ( se não o favorito), Sonny e o nome do álbum era "Our Man in Jazz". E daí para surgir essa brincadeira que virou o nome deste blog, foi um pulo. Um bom álbum de jazz, coisas que gosto, coisas que minha amada gosta e coisas que coisamos juntos.

Se tiver curiosidade, esta é a capa do "Our Man in Jazz" original":










E estas são as músicas:
1 - Oleo
2 - Dearly Beloved
3 - Doxy
4 - You Are My Lucy Star
5 - I Could Write a Book
6 - There Will Never Be Another You (adoro esta)

E este é o link para a Rádio UOL onde dá para ouvir as músicas: http://www.radio.uol.com.br/#/volume/sonny-rollins/our-man-in-jazz/16457?action=search

segunda-feira, 19 de julho de 2010

VH1 Classics Top Ten: Rock Bands

E onde estão os BEATLES???? Sério, onde estão os Beatles? The Beatles. Onde?

Resolvi assistir ao VH1 Top Ten: Rock Bands

Legal. Vamos ver:
10 - AC/DC.
9 - Black Sabbath.
8 - U2.
7 - The Clash (?).
6 - Queen.
5 - Bruce Springsteen and the E Street Band (!!!!!).
4 - Pink Floyd
3 - The Who
2 - Led Zepellin
1 - The Rolling Stones

Ok, ok. Stones em primeiro, temos o Zepellin, Pink Floyd, Who, U2, Sabbath. Mas... The Clash em 7o? BRUCE SPRINGSTEEN??? Fala sério. Alguém ouve falar da E Street Band? E o apresentador ainda fala que o único americano da lista é o Bruce Springsteen. Caramba. E o The Jimi Hendrix Experience? Janis Joplin and the Band of Gipsies? Bob Dylan and The Band?
E por que o Clash e não os Ramones? Caracola. E em 7o ainda por cima. Por isso eu nunca gosto de listas. Eu nunca concordo e fico inconformado. Mas... OMITIRAM OS BEATLES ATÉ DAS BANDAS QUE QUASE CHEGARAM LÁ!!!

É sério: Aerosmith, Def Leppard, The Doors (Yeah!), Guns n' Roses, Heart (!!!), Judas Priest, Lynyrd Skynyrd, Metallica, Mötley Crue, Rush.

Qual a desculpa para não ter os Beatles? Não consigo imaginar como eles não entraram nessa lista. Ah. Música pop, é isso? Não, os Beatles não são pop. Eles são rock n' roll puro. A banda que mais influenciou quem veio depois, junto talvez do Led Zeppelin.

Pra mim, ficaria assim:

10 - Ramones
9 - Metallica
8 - Black Sabbath
7 - U2
6 - AC/DC
5 - Queen
4 - Pink Floyd
3 - The Who
1 - The Rolling Stones
2 - Led Zeppelin
1- The Beatles

Impossível deixar Clash no Top Ten. E pra mim (e um monte de gente), colocar o Bruce Springsteen seria como colocar a Janis a sua banda ou o Bob Dylan com a The Band. Ou seja, nada a ver. Argh. A lista estava ótima, mas quando chegou no 5o lugar e eu contei mentalmente os Stones, o Who, o Pink Floyd, o Led Zeppelin e os Beatles, vi que algum muito bom ia rodar.

Mas na minha lista, os Beatles não rodam. E por mais que eu goste de Doors, não tenho como colocá-los entre os 10, seja por popularidade, influência... Ramones e Metallica mudaram muito a música depois deles, fora que só lançaram petardos. Bom, fica assim, por ora.

sábado, 15 de maio de 2010

A questão do casuísmo

Ótimo, simplesmente ótimo:

A questão do casuísmo (do ceticismo.net)


Depois teço algumas palavras sobre isso. Sou admirador da ciência e da busca pelo conhecimento e esse texto foi muito bem escrito.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Por que certas músicas parecem grudar na gente? Eu como tenho fases com música, estou que não paro de ouvir Gloria, com o Doors. A letra, jorrando erotismo e sexo puro e do bom. Jim Morrison com aquela voz rouca e jeito sensual de cantar. E a banda, tocando com energia... É libído, Mojo Risin', tesão. Fico doido ouvindo uma música que nem é do Doors, só um cover. :)

Como acontece com Bad Day, Supernatural Superserious, Cuyahoga, Pop Song 89 do REM; Where the streets have no name, One e Stay (Faraway, So Close), Bad, do U2; Eight Days a Week, Revolution, Across the Universe, dos Beatles; Don't Stop me Now, Somebody to Love, do Queen; So Lonely, Synchronicity II, do The Police; Back on the Chain Gang, dos Pretenders; I'm a Believer, com o Smash Mouth; You Really Got Me e All Day and All of the Night, dos Kinks; N.IB, Sabbath, Bloody Sabbath, do Black Sabbath; Closer to the Heart, Limelight e The Spirit of Radio do Rush; Rock n' Roll, Whole Lotta Love, Good Times, Bad Times, D'Yer Mak'er, Over the Hills and Far Away; do Led Zeppelin; Axis (Bold as Love), Fire, do Hendrix; Tonight, Tonight, do Smashing Pumpkins; além, claro das várias do Doors, como Touch Me, Hello, I Love You, Love me Two Times, Not to Touch the Earth, The End, L.A. Woman, e por aí vai.

Uma listona gigante, mas nem todas são grandes sucessos das bandas. No fim, é só aquela coisa de "Caramba, o que essa música faz comigo????"

E tem outra: Doors ao vivo é imbatível. Não tem banda que toque melhor. Qualquer música sem graça vira algo maravilhoso. Estou ouvindo Soul Kitchen e a versão de estúdio não chega nem perto. Além disso, você não sabe o que esperar do Jim...

Fim do post inútil.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Queria receber uma carta


Queria receber uma carta. Não uma conta, um aviso, um bilhete, tampouco um convite. Uma carta mesmo! Carta de amigo, do tempo em que a informação não era expressa.
Nada contra a internet, eu a utilizo bastante. Nem digo "como eram bons os tempos das cartas!". Os tempos podiam não ser necessariamente bons, mas as cartas o eram.

Para escrever uma carta, é preciso parar.

Atividade artesanal, diferente do mais longos e elaborados e-mails. Escrever uma carta exige introspecção. É necessário ter em mente detalhes do destinatário; pensa-se nele, em suas características; imagina-se sua reação ao receber o que foi escrito e se saboreia a amizade, o amor. É um momento dedicado ao destinatário, exclusivamente a ele e a mais ninguém, o que o torna especial. Tem de ser escrita à mão, sem pressa, frase por frase: na letra está um pouco do espírito de quem escreve. Nas entrelinhas ela diz: amigo, dediquei este tempo somente a você pela sua importância. Então cuidadosamente são selecionados momentos pessoais a serem partilhados. Partilhar...tão bonito! Contamos a quantas anda a vida, quem conhecemos, de quem nos afastamos, quem se afastou de nós, como nos sentimos; segredos indevassáveis, acontecimentos corriqueiros que deveriam obrigatoriamente ter a participação daquele a quem escrevemos, mas que por circunstâncias variadas não está conosco. Damos um pouco de nós. Chega o momento da despedida e vai via correio um abraço e um beijo em forma de palavras. Dobra-se cuidadosamente a carta.

Adolescente, costumava fazer dobraduras esdrúxulas, possivelmente para mostrar originalidade ou aumentar a expectativa de quem fosse ler. Na época não tínhamos tanta pressa; podíamos nos dar ao luxo de pensar em como decifrar o enigma daquelas dobras no papel; abri-lo de modo a não corrompê-lo e garantir a leitura integral do conteúdo,sem rasgos. Se fosse folha de caderno, por consideração e capricho, se fazia indispensável retirar as franjinhas.

Era hora de sobrescritar o envelope, fechá-lo com cuidado, se possível colar um adesivo ou uma figura bonitinha na frente, pequeno mimo para quem recebe. Aí era só por o selo e levar ao correio...ou encontrar uma caixa amarela que magicamente levaria um pedacinho de nossa alma à pessoa querida. Pronto!

Lembro-me bem do horário em que o carteiro passava. Um senhor sorridente, com bigodão ruivo à la Leôncio. Ele também me conhecia; sabia da minha expectativa e quando me via no portão já sinalizava de longe se havia ou não carta para mim. Por muito tempo esse foi o homem que mais esperei. Literalmente! Como não esperá-lo se na sua sacola, entre centenas de correspondências, poderia estar também uma parte da história cotidiana do meu amigo? Um amigo que realizou o mesmo processo que eu, para quem por instantes fui única e especial, com notícias levadas tão a sério quanto qualquer acontecimento passível de mobilizar nações e chefes de Estado.

Enfim desfrutar o prazer de ler e a certeza de que, naquele instante, tudo fazia sentido.

*Para Mirela, com carinho.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Convenções

Não sei por que a festa em torno da virada do ano. Longe de ser pessimista, acredito que a celebração deve acontecer todos os dias possíveis. Um ano é apenas uma convenção, uma medida de tempo criada pelo homem. Nada mais. Merecem champanha e fogos o sorriso da minha filha, o abraço que recebo dela ao acordar...tão sincero!... deitar no colo do meu marido, tomar café com ele batendo papo, conversar com minha mãe ao telefone, rir com a minha irmã, contestar meu irmão, ser contestada por ele e nos divertirmos com isso, falar palhaçadas ou futilidades com as minhas cunhadas, ver minha filha e meus sobrinhos crescendo saudáveis, lindos, espertos, inteligentes, engraçados, fofos...

O AMOR merece ser comemorado, desfrutado e agradecido. Com fogos e champanha (por que não?), a todo e qualquer momento.