terça-feira, 6 de outubro de 2009

Os Simuladores (Los Simuladores)

Santos, Vargas, Medina y López. Tá, eu não falo espanhol e meu cérebro tem uma baita resistência a esse idioma, mas guardem os nomes. Não fosse o Almodóvar, com certeza ainda estaria evitando ver certas coisas na TV, como esta maravilhosa série produzida pela mexicana Televisa, com suporte da Sony.
Confesso que fiquei com um pé atrás quando vi o primeiro episódio, pois não tinha idéia do que iria ver. Ou melhor, tinha sim. Achei que ia ver uma série nos moldes da produções brasileiras, como Mandrake, Filhos do Carnaval, 9mm e outras séries brasileiras. Ou seja, o velho ranço com produções não estrangeiras, de preferência americanas.
Mas sendo sincero, Os Simuladores é atualmente minha série de comédia favorita, de longe. Mais do que Friends, Two and a Half Men, Scrubs ou The Big Bang Theory. Imaginem uma série que aparecem pessoas com problemas e no meio da conversa, a outra pessoa, que apenas ouve, fala de "pessoas" que podem ajudar e que eles resolvem qualquer pendenga.
A pessoa marca um encontro e de repente aparece... Santos (Logística e Planejamento). Ele ouve o problema, fala sobre os custos elevados da operação e diz que entrará em contato. No quartel general (sim, eles tem um QG), Medina (Investigação) conta detalhes do problema, fala da investigação que foi, fornece detalhes, pontos fracos de quem oprime a pessoa que pediu ajuda. Santos chega ao plano e pede a López (Técnica e Mobilidade), para providenciar o que será usado na operação. E finalmente, entra Vargas (Caracterização), com seus disfarces, dando início ao golpe.
Parece simples, parece esquisito, mas é fantástico. As situações que os simuladores resolvem são as mais triviais, como um produtor de novelas que tem que lidar com uma atriz carrasca, um menino que é ridicularizado na escola pelos colegas, uma pessoa não bem dotada esteticamente e que marca um encontro pela internet com uma beldade argentina ou até salvar a própria pele ou de seus ajudantes (sim, eles tem ajudantes, mas que chamam de colaboradores). E o que acho que é a marca do seriado: a execução dos planos, que são ABSURDAS, mas que ao serem expostas fazem tanto sentido que acabam envolvendo completamente o telespectador. Vou dar um exemplo (mas sem contar o final).
Em um dos episódios, velhinhos moradores de um asilo, cuja dona pretende vender o lugar, chamam os simuladores e o plano deles é surreal: Vargas fantasia-se de vampiro (é sério) e seduz a dona do asilo para que ela venda o terreno para ele. E o desenrolar, eu não conseguia parar de rir. Você sabe que aquilo é inverossímil, que ninguém acreditaria em algo assim, mas eles são tão convincentes, tão persuasivos que até quem está assistindo começar a levar aquilo a sério, sabendo, é claro, que é apenas um "simulacro".
Vale muito à pena, apesar de dois problemas: só passa na TV a cabo e num horário bizarro na Sony, acho que 4 da tarde no sábado, com algumas reprises espalhadas na programação.
Vale lembrar, que assim como o CQC, a idéia original e os primeiros programas surgiram na Argentina.

E claro, vai a crítica. Por que diabos não conseguem fazer algo desse nível no Brasil? É sempre favela, sertão. Nada contra isso, mas do que serve ver na hora do divertimento e lazer algo que já vemos todos os dias na rua ou nos jornais? Além disso, sabemos que o México é um país como o Brasil. Lugares muito bonitos e outros horrorosos. E ainda assim, a produção de Os Simuladores consegue mesclar os dois elementos de maneira soberba. Você tem certeza absoluta que eles estão México, mas ao contrário das séries brasileiras, isso não é o mais importante. Pra eles, o importante é a trama, não onde ela se passa. Ao contrário daqui, o cenário não é um personagem. A fotografia é muito boa e você segue o que importa, que é o enredo.
E nem venham com isso de "mostrar as mazelas". Chega de vender nossos produtos sempre baseado no que temos de pior, essa realidade que todos sabemos (e por todos, quero dizer o mundo todo), e que ao invés de combater, ficamos enaltecendo. Que me importa saber da vida de bicheiro ou de retirante, se é só olhar pela janela e ver isso? E deixando claro. Quem me conhece sabe que não sou a favor de separação de classes, de isolar o que temos de ruim ou, como ouço às vezes, tacar uma bomba na favela pra resolver isso. Só acho que a arte precisa ir além desse lugar comum que se tornou no Brasil. Só isso.