Durante todo meu processo de desconversão das religiões e do conceito de deus (estou devendo um texto sobre isso), uma das coisas que sempre pensei foi: "Não vejo porque os outros precisem saber e agora que não tenho mais a crença, não quero fazer como os religiosos e sair por aí 'pregando' a não existência de seres mitológicos ou qualquer outra coisa não provável".
Só que por todo o tempo de minha vida que passei acreditando em deus e o tanto que tive de crenças, valores, preconceitos entranhandos, uma das coisas que faço até hoje é ler sobre a não-crença. Adoro visitar sites sobre ateísmo e/ou ceticismo, como atestado nos meus sites favoritos deste blog. Faço isso porque não acho que o misticismo responda as questões que tenho e mesmo que não tenha uma resposta definitiva, é lendo sobre ciência e filosofia que vou conseguir ao menos entender um mínimo sobre existência, universo, mundo, ser humano, além de poder compartilhar com outros ateus e agnósticos este ponto de vista que ficou sempre relegado à margem da sociedade. Agora, temos lugares para ler, discutir, compartilhar. E o que acontece?
Sim, os crentes (no sentido daqueles que creem), entram nestes sites para fazer proselitismo. Citam a Bíblia, falam de inferno, falam de Jesus, de recompensa, de paraíso. Entram para falar de Criacionismo, Design Inteligente, sobre os "furos" da Teoria da Evolução, do Big Bang. Adoram falar mal do que a ciência conquistou e avançou gigantemente nos últimos 200 anos. Só que... Pra que fazer isso num site de ateus? No fim, é divertido responder a esse tipo conversa, mas é um site de ateus, a maioria ex-religiosa, pessoas que viram que a religião não respondia nada além do surrado "Foi porque Deus quis assim".
Aí eu entendo porque o biólogo Richard Dawkins, um dos grandes nomes do ateísmo, diz aos ateus para "saírem do armário" e ainda: que militem e exijam respeito a não crença. Pois quando a religião é aplicada apenas dentro das igrejas e individualmente, ela não é um problema. Mas quando ela é levada em lugares que ela não cabe, isso passa a ser abuso. Isso passa a ser desrespeito. Para muitos crentes, é inadimissível que existam pessoas que não compartilhem de suas crenças, como se isso fosse impossível. Aí eles acham que é obrigação levar a palavra de seus deuses para os outros. E como estamos no Brasil, estamos falando dos cristãos. Paulo, em seus devaneios doidos, diz que os cristãos tem que fazer tudo para pregar a palavra de Jesus pelo mundo (mentir, inclusive), não importando se os outros já passaram por isso e exatamente por isso não querem mais ser importunados.
Se um ateu quer ler ou escrever sobre religião, é apenas um gosto que ele tem, assim como eu escrevo sobre música, sobre a pequena, sobre a Discovery Kids. Mas para alguns, isso é só uma "crença ressentida". Por isso, digo e abertamente: não tenho crenças. Já tive, sofri muito, especialmente com o conceito de "pecado", passei por fases horrorosas de dúvidas, medo e desconversão e hoje sou muito feliz e continuo a mesma pessoa, acho que até mais integro, já que faço as coisas porque acho que é o melhor para mim ou minha família, não por medo de pecado ou achando que vou para o paraíso.
Não quis me tornar ateu. Isso foi algo que aconteceu. Não cheguei um dia e disse: "Hoje vou deixar de acreditar em deus". Só quero que respeitem a mim e todos os outros que tem que aguentar comentários como "Ah, como alguém pode viver sem deus...", "Você sabia que Hitler era ateu", "Os maiores assassinos da história, Mao e Stalin, eram ateus", "Um ateu não tem moral ou ética por não acreditar em Deus", "Que valores uma sociedade atéia poderia passar aos cidadãos?", "Ateus não são pessoas felizes porque não tem deus no coração" e tantas, mas tantas outras que posso dizer que essas são leves. Tem as ameaças ou pragas também, como "Quero ver quando alguém da sua família ficar doente se você vai continuar a ser ateu..." ou, "Deus sabe o que faz. Ele vai estar te esperando na sua morte". Pérolas do amor cristão, como podem ver.
É isso. Só quero respeito e que acreditem no que quiserem, mas fiquem longe de mim. Não preciso de muletas, não quero preencher lacunas com figuras místicas e não tenho o menor interesse em voltar a uma igreja ou ter uma religião nova, porque meu cérebro simplesmente não aceita mais esse tipo de coisa. Para mim, agora é: "Prove que algo existe ou nem precisa começar uma discussão. Aquilo que não sei, vou tentar descobrir. Só não vou inventar algo ou aceitar qualquer coisa sem provas só porque sou ignorante".
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